Embora eu tenha um maior envolvimento com Processos de Software desde 2002, participei de apenas 2 Simpósios Brasileiros de Qualidade de Software. Em 2006 (Vila Velha) e 2008 (Florianópolis). Das duas vezes fiquei muito satisfeito com a organização e a qualidade técnica dos artigos apresentados, além de, é claro, da beleza das cidades escolhidas. A gente sai do evento com bastante idéia e muito material para ler, afinal temos em mãos os anais do evento.
Desde 2006, no entanto, saí com uma pulga atrás da orelha. Por várias vezes os trabalhos produzidos são fruto de dissertações de mestrado e teses de doutorado, de quando em vez propondo novas ferramentas para atacar algum problema em aberto no campo da engenharia de software. Fiquei com a sensação de ter ouvido muito o termo "minha ferramenta", quase nunca sendo divulgado onde posso obter o link para download do código-fonte, sequer do binário (sempre havia melhorias a fazer, eles deviam usar a filosofia do VO). Achei que era coisa da minha cabeça, mas em 2008 continuo com a mesma impressão. Tomara que eu esteja errado.
A questão que fica martelando é: Se um dos objetivos da academia é estimular a pesquisa e o compartilhamento de conhecimentos, por que os códigos-fontes gerado ficam "debaixo do braço" dos seus autores? Ou então, por se tratarem de projetos grandes de professores/orientadores, cada orientando faz um pedaço e o código fica dentro da universidade. Essa é a lógica? Se forem instituições privadas, vá lá, mas e quando é o governo que está bancando?
Se isso realmente ocorre, por que será? Vaidade dos orientadores? Dos orientandos? É um problema cultural? Ou é apenas por que o mundo evoluiu e as universidades ainda não conseguiram acompanhar na velocidade desejada? O que falta para mudar esse cenário?
A última vez que estive no meio acadêmico foi 2004/2005, num MBA em Administração, portanto realmente não tenho conhecimento de causa para tratar deste ramo. Mas, meu envolvimento com comunidades Java, software livre e trabalho colaborativo não me permitem a omissão. Tenho visto o governo brasileiro estimulando as empresas públicas a usar e produzir software de código aberto. O mesmo deveria ocorrer com as universidades públicas: A regra seria disponibilizar todo o código sob licença livre, escolhendo-se a mais adequada para cada caso, ou então até criando um novo tipo para projetos oriundos do ensino. Sei que existirão exceções, decorrente de convênios empresa x universidade ou de instituições auto-sustentáveis que obtém rendas através de consultoria (mesmo essas, não precisariam lucrar com licenciamento, afinal as obras são produzidas como fruto de pesquisa), mas isso não é desculpa para produzir tão pouco.
Já imaginou o benefício que esse direcionamento poderia trazer? Logo de cara diminuiria um aparente distanciamento entre o meio acadêmico e o software livre. Mestres e discípulos seriam meio que obrigados a compreender melhor esse mundo. Temas ligados a Processos, Qualidade e Engenharia de Software se tornariam mais comuns nas comunidades, e vice-versa. Ouviríamos mais sobre Software Livre no SBQS. Veríamos mais fundamentação acadêmica no FISL.
Se você possui algo a contribuir, gostaria muito de ouvir sua opinião, principalmente se tiver contra-exemplos (eu mesmo tenho um: A Incubadora Virtual) para me mostrar que estou enganado, que o cenário é melhor do que estou enxergando. Do contrário, se nada for feito, continuaremos com muito código fechado e perderemos grandes oportunidades de inovação.
Um comentário:
Pois é, acho que a vaidade e/ou temeridade são formadoras das chamadas "ilhas do conhecimento". São "ilhas do conhecimento" cercadas de vaidade por todos os lados...rs
Entendo que seria de grande valia a aproximação da comunidade de software livre com a academia e da academia com a comunidade de software livre. E com relação a idéia que você esboçou, bem que o governo deveria cobrar como contrapartida dos investimentos em pesquisa a disponibilização do que fosse produzido, como um retorno para toda a comunidade que ajuda no desenvolvimento da área de tecnologia da informação.
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