O livro A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, em inglês), que acabo de terminar, merece realmente ser lido. Nas 3 primeiras páginas eu não estava entendendo nada, até que notei na contra-capa que a história é contada pela Morte, com uma escrita muito interessante e peculiar. Tive que começar tudo de novo e aí fui tomando gosto. Contrariamente ao que possa parecer, não tem nada de mórbido. Tendo como pano de fundo a 2a Guerra Mundial, e todo o sofrimento por ela causado, o autor fala, acima de tudo, do poder da palavra. A menina protagonista, que passa por alguns infortúnios, vai se apegando cada vez mais aos livros. Sem condição de comprá-los, encontra/provoca situações que lhe permitem roubá-los. O próprio Hitler é um (péssimo) exemplo de alguém que mudou o mundo (isso ninguém pode negar) através das palavras. Veja um trecho do livro:
Sim, o Füher decidiu que dominaria o mundo com palavras. "Jamais dispararei uma arma", concebeu. Não precisarei fazê-lo. Mesmo assim não se precipitou. Reconheçamos nele ao menos isso. Ele não tinha nada de burro. Seu primeiro plano de ataque foi plantar as palavras em tantas áreas da sua terra natal quantas fosse possível. Plantou-as dia e noite, e as cultivou.
Observou-as crescer, até que grandes florestas de palavras acabaram crescendo por toda a Alemanha. Era uma nação de pensamentos cultivados.
Fica a sugestão de leitura, mas esse post é mesmo sobre palavras.
No mundo de hoje, cercados de tecnologia, fico meio preocupado com as futuras gerações. Além de TV e DVD, MSNs, e-mails, celulares, Orkuts e YouTubes da vida, será que as pessoas investirão (essa é o termo mais apropriado) tempo para ler um bom livro? E a escrita? Adeus à acentuação, gramática, concordância, .... Viva os Emoticons e o "internetês". Ler e escrever bem faz diferença (quantas "pedradas" você vê no seu dia a dia, vinda de pessoas supostamente "cultas" e bem-educadas?). Muita gente não passa em concursos públicos por causa de deficiência em Português (pior é que as provas agora nem tem mais Redação!). A transferência de conhecimento e cultura ainda se dá muito pela palavra falada e, principalmente, escrita.
Que exemplos estamos dando a nossos filhos? Estamos estimulando neles o hábito da leitura? Que tipos de pessoas/profissionais estamos ajudando a formar?
Vou ficando por aqui, ressaltando este belo exemplo de como nunca é tarde para dar valor às palavras: Uma colega auditora da Receita Federal do Brasil, ainda na ativa, começou a escrever poesias aos 80 anos de idade e está prestes a publicar um livro. Conversamos um pouco há alguns meses (tive o prazer de ouvir algumas de suas poesias) e escrevi isto em homenagem a ela:
Feliz Regina
Meu filho
De três anos
Já se interessa
Pela Escrita
Nem sabe ainda
O quanto as letras
Juntas
Ficam bonitas
Eu
Aos dezoito
Num rompante
Criativo
Fui soltando
O meu verbo
E vou sentindo
Que estou vivo
Minha amiga
Aos oitenta
Atacou
De poetisa
Escrevendo...
Sobre a lua
Sobre o vento
E os amores
Desta vida
Nos miremos
Neste exemplo
E na luz
Desta menina
O papel
É o seu palco
Claire
Feliz
Regina
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