segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Cozinhamando

Aqui será revelado
O teu dom de cozinhar
Deixando a receita guiar
Terás um prato recheado
De sabor

Pouca diferença fará
Ingrediente que vem primeiro
Mas saibas que em nosso tempero
Só não pode faltar
Amor

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As Intermitências da Morte

Acabei de ler mais um livro de Saramago graças as minhas eventuais viagens de avião. Conclui em 2 tempos. Não é fácil ler parágrafos de 7 páginas numa linguagem não trivial após 1 dia de trabalho e um plantão noturno colocando 2 crianças para dormir. Hoje 4 anos e meio, uma. 10 meses, outra. As Intermitências da Morte é mais um livro de um realismo absurdo de personagens sem nome em um país qualquer, que começa nas 0h da virada de um ano quando a partir daí ninguém morreu. A morte faz greve. É morte assim mesmo, com m minúsculo. Para que enfeitar. E pronto. Impressionante como a mente brilhante e meio doida do escritor consegue tirar da cartola estórias inimagináveis para reles mortais. Lendo a contra-capa de seus livros é impossível prever como ele vai encher as páginas ali dentro com temas como "de um dia para outro todo mundo começou a ficar cego" ou "de hoje em diante ninguém morre". Voltando ao tema do post. Legal, vida eterna, você pode pensar. Eu disse ninguém morreu, mas continuando ficando velhos, doentes, se acidentando. Os hospitais lotam, as funerárias entram em crise financeira, mas se unem e temporariamente se salvam buscam o governo chegando a brilhante solução de impor o enterro de animais domésticos, as igrejas perdem sentido sem seu principal produto, já que a vida após a morte não existe sem a última. Ninguém mais quer comprar seu lugarzinho no céu. Mas no país vizinho a morte continua trabalhando. Assim uma família humildo deu cabo a um marimbondo que já não mais queria estar entre nós, mas era forçado. Então surge uma maphia, com ph, que começa a contrabandear quase-mortos que vão falecer na fronteira. Cria-se o caos. Até que ela, a morte, resolve voltar num dia qualquer a partir daí emitindo aviso prévio, dando um tempo para as derradeiras providências. Passa a mandar bilhetes cor violeta para a casa dos infortunados. Eu não gostaria de receber um desse. Muitos despirocam na sua semana final. Sobre este ultimo termo chulo que usei tentei pensar em outro, mas nenhum se encaixou tão bem. Podía ter colocado aspas, mas não sei se mago - fiquei intimo - o faria. Deixa assim, baianês. Ninguém sabe como os bilhetes são postados, mas eles sempre chegam, como num passe de mágica. A policia então inicia uma caça à morte, calculando com base em estudos científicos que é uma mulher com cerca de 36 anos. Até que um dos bilhetados, um violoncelista mediano, passada sua 1 semana, continua vivo. Mas como. Resolver isso vira a tal ponto uma obscessão para a morte que ela deixa sua amiga foice encarregada do envio dos bilhetes enquanto personifica-se em mulher exatamente como imaginada e vai ao encontro do seu alvo. A gente se vê torcendo para a morte, ja imaginou, querendo que tudo volte ao normal. Que todos tenham de volta seu direito de passar dessa para melhor, assim esperamos. Piração. História interessantíssima e intrigante. Recomendo. José tem um dom incrível de reduzir o ser humano à categoria quase animal e faz a gente perceber e valorizar pequenas coisas. Eles nos puxa pra baixo mas, engraçado, concluímos a leitura pensando pra cima. Se você ainda não Saramagueou, outra palavra que acabo de inventar, mas pelo menos conseguiu chegar ao final desse post sem a sensação que precisa reler tudo para entender melhor, ou pior, entender algo, parabéns, está preparado para começar a desevendar o autor. Longe de mim querer chegar perto do mestre, mas bem que tentei nestas mal traçadas linhas dar uma pífia (esta também nem sei onde fui buscar) idéia do seu estilo literário. Mas vou avisando, não esmoreça. Talvez sintas vontade de parar, fazer greve assim como a morte. Tenha fé que no final tudo voltará a seu lugar. Ou não. Tratando-se de Saramago, nunca se sabe.